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sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Quantas vezes?

 


Quantas vezes

olharei para o lado

e desviarei meus passos,

já descontrolado,

perdido de teus braços?


Quantas vezes

vou sorrir sozinho

ao te esperar

e chorar baixinho

por não te encontrar?


Quantas vezes

vou beber a dor

de me conter em abrolhos,

por não ver amor

no fundo de teus olhos?


Quantas vezes, por Deus,

vou ter que me recompor,

por ter meus sonhos os teus

e não ver em teus sonhos o amor?



* poema publicado na imprensa, pela primeira vez, em 11 de janeiro de 1987

sábado, 16 de agosto de 2025

Descobrindo

 

Não me preocupam as desvantagens,
tampouco as situações que se desmerecem.
Sou desatento a todas as minhas desvontades.
Meus olhos, desavisados e desocupados,
contemplam as desilusões que desaparecem.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

A moça na estação

 

Lá vem o trem.

Lá vem o trem.

Lá vem o trem.


De longe ele vem.

De longe ele vem.

De longe ele vem.


O maquinista

Dispara o apito.

Dispara o apito.

Dispara o apito.


E tem fumaça.

E tem fumaça.

E tem fumaça.


Uns vão,

Uns vêm,

No trem.

Uns vêm,

Uns vão,

No trem.


Há quem chega e fica.

Há quem chega e fica.

Há quem chega e fica.


Há quem vai pra ficar.

Há quem vai pra ficar.

Há quem vai pra ficar.


Lá vai o trem.

Lá vai o trem.

Lá vai o trem.


Agitação.

Agitação.

Agitação.


Ninguém repara

Num vulto sozinho

Que agita um lencinho

Com a mão.


Ninguém repara

Na moça moça que chora

Por quem vai embora

E deixa o "adeus" na estação.


Solidão.

Solidão.

Solidão.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Paz!

 

Uma hora dessas,

Vou sair por aí, às pressas,

Agitando uma bandeira

Em que esteja escrito:

"Paz!"


No início, estarei sozinho,

Mas sei que no caminho,

De todos os lugares,

Surgirão muitos, aos milhares,

Para ver como se faz!


De Leste a Oeste e Sul a Norte,

Nosso grito ecoará, vibrante e forte!

Tremularão nossas bandeiras

Por um mundo sem fronteiras,

Onde cada um tem respeitado seu valor!


Em breve, formaremos multidões!

Pelas ruas, pelos campos, aos milhões!

Mostraremos que há saída e tantos jeitos.

Que sem ganância, sem maldade e preconceitos,

É possível que impere a Lei de Amor!

sexta-feira, 16 de maio de 2025

A moça dança

 

Ela pensa,

ela alcança,

ela cansa,

descansa

e avança.


A moça 

dança, dança, 

dança, dança

e faz da vida 

o que quer.


Ela repensa,

ela dispensa

recompensa

e avança.


A moça

dança, dança,

dança, dança.

Sabe da vida

o que quer.


A moça

dança, dança,

dança, dança...

Vive a flutuar...


Dança, dança,

dança, dança...

Não se cansa

de dançar...

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Ando frágil

 

Ando frágil.

Feito papel rasgado

prato trincado

osso fraturado

espelho riscado.

Careço de restauração.


Ando frágil.

Feito telha rachada

asa quebrada

roupa manchada

fotografia cortada.

Padeço de reconstrução.


O tempo urge, a pressa arde.

Tudo é para ontem, hoje é tarde.

Misturam-se ilusão e realidade.

Acho que sofro de modernidade.

sexta-feira, 14 de março de 2025

O último cigarro

 

Fumava há muitos anos. Às vezes, por sentir que a saúde a cada dia parecia menos robusta, pensava seriamente em parar. Os dentes estavam escurecidos, os dedos amarelados, a voz já não era mais a mesma. O fôlego, então... Mas adiava e adiava.


Certo dia, acordou positivamente decidido: será hoje! Naquele dia, exatamente às 15h, fumaria pela última vez.


Na hora aprazada, retirou da carteira um dos seus adorados companheiros de vida e fez com que começasse a queimar, se deliciando com aquele néctar macabro. Curtiu profundamente aqueles instantes derradeiros, pois era uma despedida que sempre tentou evitar. Era preciso, porém . Não recuaria.


Pausadamente, em aspirações medidas, sentidas e ressentidas, levou até o fim o ato de fumar o seu último cigarro. Feito. Após a última tragada, com sensação de liberdade e de dever cumprido, respirou aliviadamente. E morreu.