Tradutor

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

A casa vazia

 

Percorreu a casa inteira

da frente aos fundos.

Memórias de vida inteira,

de diversos mundos.


Peças vazias, mas repletas.

Outro tempo, outra realidade.

Completas ou incompletas,

lembranças e muita saudade.


Agora, a casa está abandonada:

um enorme passado e mais nada.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Que bom que vieste!

 

Que bom que vieste!

É linda a tua chegada.

A tua presença é emoção.


Que bom que vieste!

És luz pela estrada.

És paz no coração.


Que bom que vieste!

És boa-nova e nem imaginas

o bem que nos fazes.


Que bom que vieste!

Talvez nem definas

o amor que nos trazes.


Que bom!

Que bom que vieste!

Sedução

 

Uma tatuagem discreta,

em desalinho o cabelo

e perfume no ar.


Uma vontade secreta, 

um beijo no espelho

e displicência no andar.


Parte e fecha a porta -

mas sempre volta.

Dá-me

 

Dá-me um tanto de intranquilidade,

para que eu possa me manter atento.

Calmaria é ímã, chama a tempestade.

Monotonia é poeira a ser tocada a vento.


Dá-me um tanto de susto e de medo,

para que eu possa me avaliar também.

Certa rotina esconde algum segredo

que salta aos olhos num olhar de alguém.


Dá-me um tanto de eu ser eu mesmo,

sem disfarces, sem rumo, em desatino.

Às vezes, é bom se andar por aí, a esmo,

para afinal se chegar a algum destino.


Dá-me um tanto do que mais não sou,

para quem sabe, um dia, possa voltar a ser.

Quando fico, é justo a hora que mais vou.

Quando me calo, é que mais tenho a dizer.



segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Dilema

 

Amaria

amar-te.

Amar-te-ia

em toda parte.


Mas não me vês.

Fica um poema

de um dilema

e de um talvez.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Plante!

 

Plante!

A Natureza brota.


O tempo se esgota.


Recomeçar é preciso.

Abra os olhos e um sorriso.


Plante, zele!

Flor à flor da pele.


Plante!

Sem ar, sufoca.


Plante!

A Natureza brota.

O consumismo consome

 

O consumismo consome

o homem.

O homem

acredita que consome.


Pobre homem, iludido.

Sem perceber, é consumido.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A Natureza padece

 

A Natureza padece.

Mesmo com sua pura generosidade,

a Natureza padece.


A Natureza padece:

sofre de humanidade.


A Natureza pede prece.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Verso triste

 

Um verso triste, pálido,

também é meio válido

ao que se quer dizer.


Um querer triste, pálido,

também é meio válido

de se bem querer.

(des)ligados

 

Tu não ligas para mim.

Eu não ligo para ti.

Assim, nunca iremos nos telefonar.


Eu não ligo para ti.

Tu não ligas para mim.

Assim, nunca haveremos de nos acertar.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Contratempo

 

O tempo, às vezes,

fica a nosso favor.

Em outras vezes,

vira contratempo, amor.

Multidão

 

Uns vão,
uns vêm.
A solidão,
na multidão,
vem também.
Sempre tem
alguém,
procurando
alguém.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Arteiro ou artista?

 


Faço a minha parte:

pela vida, faço Arte.

Por toda parte,

o tempo inteiro,

deixo Arte pela pista.

Uns me chamam de arteiro,

outros dizem que sou artista.

O do meio

 


Sou o do meio.
Aliás, sempre fui
o do meio.
Meio termo.
Meio gesto.
Meio sem vontade.
Meio tempestade.
Meio água parada.
Recebo meia-luz
e deixo meia-sombra
na estrada.
Sinto assim, sem escudo,
que estar no meio de tudo
é como estar no meio do nada.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

O olhar

 

Olhar discreto.

Olhar secreto.

Que finge não ver...


Depois, dissimula, disfarça,

até que, no silêncio, se desfaça

como se pudesse se esconder...

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Quando me chamas

 

Quando me chamas,

às vezes, vou.

Em outras vezes,

finjo que não estou.


Prefiro ser deserto -

do que estar perto,

mas não estar nem por perto.

Instante noturno

 

À meia-luz,

no silêncio do seu quarto,

fixa o pensamento

e lê fragmento

de algum escrito 

de Camus.


Vez que outra,

por um instante,

dirige o olhar perdido

a um tempo impreciso,

muito distante

dali...

terça-feira, 30 de abril de 2024

A resposta

 

Passei muito tempo 

esperando resposta 

a uma carta 

que não cheguei a escrever.


Quando a gente gosta, 

pensa que o sentimento 

é algo

 que não precisa se dizer.

O pensamento da moça

 

A madrugada avança.


Ao longe, a multidão ansiosa.

Risadas, além.


Na brisa, a esperança.


A moça caminha silenciosa.

No pensamento, alguém.

sábado, 6 de abril de 2024

O meu canto

 

Que o meu canto
cause espanto,
mas, entanto,
leve encanto
a todo canto.
Que o meu canto
seja mais
que tanto quanto.
Seja mais
que qualquer canto.
Que o meu canto
seja um acalanto
e torne qualquer canto
o mais lindo recanto.

sexta-feira, 8 de março de 2024

(Des)humanidade

 

Em respeito à dor do povo palestino.


Não há canto

No pranto sofrido

Na angústia da dor.

 

Não há riso

No grito contido

Na falta de amor.

 

Não há cores

Onde o aroma das flores

É arrancado do ar, em profusão.

 

Não há sabores

Onde cinzentos vapores

Fazem da paisagem uma devastação.

 

Não há brilhos

Nos olhares de pais, mães e filhos

Que se buscam, sem mais nada a fazer.

 

Não há esperança

Quando nem mesmo a criança

Recebe o direito de viver.

 

Ah, essa dor também é minha e sua.

Ah, essa dor é real, fria e crua.

Ah, essa dor traz a marca da crueldade.

 

Quando foi que inventamos fronteiras?

Quando foi que nos criamos barreiras?

Quando foi que deixamos de ser humanidade?

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O poema que não fiz

 


Tanto diz,

quanto diz,

o poema que não fiz...

Se feito, talvez passasse batido

e quem o devesse ler,

nem o tivesse lido...


Seria, então,

mais um,

na multidão.

Solidão.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Na madrugada

 

Abriu a porta pra sacada.

Olhou.

Não havia mundo.

Não havia nada.

Suspirou,

por um segundo.

Chorou -

e depois deu risada.