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sexta-feira, 14 de março de 2025

O último cigarro

 

Fumava há muitos anos. Às vezes, por sentir que a saúde a cada dia parecia menos robusta, pensava seriamente em parar. Os dentes estavam escurecidos, os dedos amarelados, a voz já não era mais a mesma. O fôlego, então... Mas adiava e adiava.


Certo dia, acordou positivamente decidido: será hoje! Naquele dia, exatamente às 15h, fumaria pela última vez.


Na hora aprazada, retirou da carteira um dos seus adorados companheiros de vida e fez com que começasse a queimar, se deliciando com aquele néctar macabro. Curtiu profundamente aqueles instantes derradeiros, pois era uma despedida que sempre tentou evitar. Era preciso, porém . Não recuaria.


Pausadamente, em aspirações medidas, sentidas e ressentidas, levou até o fim o ato de fumar o seu último cigarro. Feito. Após a última tragada, com sensação de liberdade e de dever cumprido, respirou aliviadamente. E morreu.

Na festa

 

    Chegou com um tanto de atraso. A festa já estava bem agitada. O ruído das conversas se expandia pelo ar, como a esperança que invade a alma a cada início de nova estação. Percebeu que, como sempre, os olhares que se procuravam não eram necessariamente entre as pessoas que conversavam. Era bom estar ali. E entediante, ao mesmo tempo. Pensar em como seria o final, atrapalhava curtir o agora. Mas, vamos lá! Ao flutuar da primeira bandeja por perto, a primeira dose. Nada como um pouco de água pura, para molhar a palavra e refrescar as ideias. Conviver é preciso.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Pensamento e tempo

 

Às vezes, 

penso no tempo

que passa.

Eu penso,

ele passa.

Mesmo que parasse 

de pensar, 

ele continuaria 

a passar.

Assim vamos.

Simplesmente estamos.

Pensamento e tempo,

incontroláveis,

ao vento.